No meio da tarde de inverno
Tive um sonho como uma fotografia
Vi meu menino de todas as horas
A cantar as dores e a amedrontar
Outros tantos meninos.
Tinha voltado ao meu lado
Era uno, era tríade, era par.
Catávamos moedas de chocolate
Cantávamos músicas que até hoje nem sei.
Ele me ensinou a sentir o gosto das coisas
E a fumar o verde para relaxar.
Cortou fundos de copos para assustar criancinhas
E sorriu quando eu contei-lhe histórias de amor,
Falou mal de Deus
Dizia-me que era um velho demente
Que só existe na cabeça das outras pessoas.
"Ele diz(ia) por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
Depois partiu pr’alguma Paraíba
Ou nem mesmo veio
(apenas em meus sonhos)
A cutucar-me as memórias.
Essa é a história do meu menino
Que não é Jesus
Que não é de Caeiro
Que não é de Maria
Que não é de ninguém.
alcântara .
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