quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

UNICOVERSO

Não me estilhaço por poucos pedaços
não anteparo os sombrios mistérios da mutação
Incorporar um destino me é tão familiar
que sou univovivendo

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

AVISO AOS NAVE(I)VANTES

TEMPOS NOVAMONOS

Quero o acaso
quebro a cara
viro caco
quebro ocasco
a casca do ovo
rompe
renasço em bagaço
me viro ao avesso
retomo opé
em descompasso
parto
, farto d etanta injúria,
descubro um vasto mundo no estranho
escuro
desdobro o aço
fornalha de mil partes
e forneço ao vício uma nova utilidade
salto o cadafalço
desarmado rasgo a pele
risco um traço

troco um
(trago)
um gole

revivo um parto
parte em parte
vivo - morro - vivo
diadia dia dia
em desacarte.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

em espécie diarístico
dia 1 - flagrado em cena de crime, por câmeras autônomas dirigidas por Homens - em um supermercado qualquer da Grande San Paolo. Não declarei no imposto de renda um queijo e uma manteiga - latcínios (recomendado pelos nutricionistas para uma dieta saudável (fonte de cálcio e proteínas))problemas com a lei.
dia 2 - Autropelado por veículo longo mantenha distância, as câmeras desta vez não flagraram, estávamos a menos de 60. lesão no pulso esquerdo.
dia 3 - Em passeio descompormissado, leve furto na casa das rosas - Pau Brasil; para celebrar, acabei parando em um coquetel de abertura da exposição em homenagem a Regina Silveira - salgadinhos: bolinha de queijo, croquete, e quiche (realmente, tudo Kitsch - poucos viram a a exposição, mas saíram satisfeitos) e também champanhe.
cheguei em casa bem. A ironia da vida é foda. as demais, passam as 21 nas redes dos globos.

sábado, 4 de setembro de 2010

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

una carta

outrora louco
    um poeta sem livro
hoje em auto-análise
    um hermeneuta
...

qué se pasa, hermano?


ah, se todos tivessem, em cada lugar do mundo, uma varanda (uma janela, uma porta) onde se pode fumar e ver céus e construções e homens, pássaros, mulheres.


penso em escrever muitas coisas, mas a vida não deixa
tanto
ou muito.
tudo é escrevível, tudo é fotografável. e pede para que o seja (?
(ou eu peço ? ou me pediram
ah, você pediu. vos.

tudo parece ser escrevível, pelo menos até o momento em que um finalmente pára para escrever.

nunca tinha contado as 16 faixas, ainda que as atravesse todos os dias. estou quase na esquina da 9 de julho,
ao lado da avenue de mayo. donde de uno lado se ve la casa rosada
y del otro la torre del congreso de la nación. la Ciudad.
se caminho calmamente, não chego a atravessar as realmente 16 faixas antes que o sinal feche.
e fica o sinalzinho do pedestre piscando em vermelho. falta uma música do anton webern (melhor assim...).
esperar mais carros passarem todavia não me preocupa. há uma estátua do quixote, há o obelisco, há tudo.
e quando estou apressado, com hora marcada para encontrar as grandes cabeças femininas que
há muito estudam a literatura hispano-americana, sempre atravesso as faixas com a velocidade adequada
e sigo.

esse círculo impressionante que uma língua cria, para além de qualquer fronteira política.
ela
o
é.

andando pela 9 de julho à noite para comprar uma pizza de mussarela por 12 pesos com 50
fui abordado por um chico que queria la plata, la plata
toda aquela tensão, dei 40 pesos pra ele e saí fora. fui comer, tremendo de adrenalina, mas tranqüilo.
qualdo voltava, lá estava ele de novo, com sua chica, e me disse de longe: gracías!

o sol não está sorrindo, na verdade. mas tem olhos, boca, é muito gracioso.
vi uma em que o sol era bordado a ouro (quase, não sei, brilhava muito), era uma obra de arte.
o nacionalismo desse povo (ou dessa cidade) me faz achar ainda mais medíocre quando os brasileiros compram as banderinhas de plástico a cada quatro anos, para torcer pelo Brasil...
por acaso, voltando do Instituto de Literatura Hispano-Americana, estava uma manifestação
na Plaza de Mayo dos funcionários de uma empresa de internet que o governo está querendo fechar.
de repente, passa um coletivo com dezenas de bandeiras da Argentina tremulando, braços para fora.
e nunca soube para onde eles iam, porque não desceram ali...
a bandeira parece que realmente representa o povo e não o estado.
mas como podemos nós realmente, conscientemente usar, numa manifestação política, numa passeata,
uma bandeira que diz Ordem e Progresso...............................................

quando escrevi no post "bonzares" que ainda falam em crise aqui, como no Brasil do passado,
hoje isso me denuncia como demasiadamente aplacado pelos ventos de otimismo que ventam
em nossa pátria. o clima por aqui realmente não é esse, e as coisas são sérias.
os adolescentes tomam as escolas. a presidência vai de frente contra o Clarín, que é algo como a Globo.
aprovam o casamento gay, e agora já discutem a legalização do aborto.
e no Brasil, hein?
pensei que o Plínio fosse subir nas pesquisas, mas parece que ninguém quer saber de "igualdade social"...
o único jornal que comprei, falava do sucesso de Dilma no Brasil, da importância de seu cabeleireiro
na campanha...

enfim...

vou fazer barba e bigode, que já deve ter um mês que não faço, e dar um rolê. hoje tem um
rockelin club de artistas todos los miércoles de 22 a 04 hs "humano querido" después escenario abierto
entrada gratuita que vou tentar achar onde que é.

se vc tiver lido até o final, um grande abraço.

senão, um beijo.

d.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Entenado em um asterro sanatório
Sofro confulvões menticinais
Expremirentando o radiotivo
Que se entoniza o conscúpio negado.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

bonzares




desde la extraña (e invejável) misión de pesquisar la poesía
por los rincones ajenos,
escribo (una).

ando por las calles y ojo
todo como un loco
(el verbo no existe pero lo creo, pues no hay mira,
en el sentido de que ñ há alvo, por isso ñ posso dizer
ando por las calles y miro
todo como un loco).

ellos me ojan también.
ellos prefieren mecer en la basura a mecer con los otros.
é o que parece ao turista, na primeira noite.
há muitos que mexem no lixo. los niños brincan allá.
y la bandera azul con su bello sol sonriente está en todo.
vieja, doblada, sucia, pero allá, allí, acá.
la identidad... que sería de la gran ciudad si no fueran tantos textos
que vuelan invisibles (ausentes?) por ella.
los nombres de las calles son nombres de autores.
nombres de autores? preguntaría un francés que deconstruye.
(qué importa quién habla? diría beckett)
ah, sí, importa, importa quién habla y como habla y de qué lengua y con qué acento.

la ciudad es vieja sus construcciones son llenas de detalles
sus bondes son de todos los colores
sus estatuas tienen pájaros de piedras
y otros de plumas.
y aún hablan en crisis. es como si yo estuviera en el Brasil hace 25 años.
antes que yo hubiera nacido,
muy muy lejos de acá. en el sertón, dice la nueva traducción de rosa.
no el don juan manuel de rosas, pero nuestro rosa.
(nuestro?)
a tradussao é mais legível.

a la playa del congreso busco el porro
y quizás también la merca.
y encuentro la música uruguaya que casi me hace llorar
y trae (traz, ñ trai, pelo contrário, afirma) todo lo que veni hacer acá.
todo? no sé.
es solo el comienzo,
aunque la plata de 1/3 del viaje
ya se fue.

domingo, 1 de agosto de 2010

argumento

Encontrei-o por um acaso - na verdade, este acaso constitui-se no fato de eu mesmo ter deixado ali, no bolso de um casaco.

Este pedacinho de papel em que estão anotados números de telefones.
e como pretendia exatamente me livrar desses papeisinhos nos quais costume anotar toda a sorte de informações, procedi à triagem a fim de certificar-me de que realmente julgava desnecessário arrastar em minha companhia aquele fragmento textual.

E lá, além da além da palavra argila, no verso, que algum dia eu escrevi para que me lembrasse de comprar, e que neste momento somente pôde me lembrar de que eu esqueci, e que talvez por isso, incidente universal, não me tornei um grande ceramista, lá estavam 14 números, correspondendo à 14 pessoas, às quais caso se queira contactar deve-se primeiramente dirigir-se a um aparelho telefônico, devidamente ligado, e, caso seja privado, uqe tenha su aconta paga pelo assinante, discar a sequência numérica de 7 dígitos correspondente, esperar o categórico sinal que está chamando e ao ouvir, do outro lado da linha: - Alô! responder, também com esta saudação e então pronunciar o nome referente, dizendo que deseja lhe falar e não esqueça de ser educado: porfavor, gostaria de falar com fulano de tal!

caso a resposta seja: - não há ninguém com este nome aqui, deve-se agradecer e em seguida desligar o telefone, necessariamente nesta ordem.

Enfim, julguei caso a caso aqueles números, e esta parecia-me ser esta a lógica dos acontecimentos que se sucederiam caso eu arriscasse,

na verdade não haveria riscos, pois haveria a salvaguarda que nos permite o telefone, ao obliterar o contato visual, de sempre sair da cena incômoda com o simples gesto de puxar o gancho ...

bem menos complicado que puxar o gatilho ... experimento de vocação suicida.

imaginei me então encontrando-me ocm cada uma daquelas pessoas.

e imaginei ainda que algumas, após interessante conversa, diram: me passa o seu telefone...
daí veio me a idéia.
Que empolgadamente eu diria os 7 números que tem me acompanhado por um longo período de tempo, e que depois falsmente diria á pessoa que me passesse o que a ela correspondi, para contatos telefônicos, a após despedirmo-nos, e a uam certa distância, ficaria feliz ao me certificar de que o número anotado fosse ainda o que estava no papel, o que me aliviaria da neurótica sensação de ...

enfim, tive a idéia de um conto ...

terça-feira, 13 de julho de 2010

sobre_posto

experimento. prévia. corpo. tela, rabiscos, carne, osso.


domingo, 11 de julho de 2010

divagaciones [irrfahrt]

1. Um cartaz pelas ruas: 


Menos morte nos jornais
e mais arte (mais vida) noticiada !


1.1. Ou serão os assassinatos as únicas obras cultuadas
(ou compreendidas) pelos jornalistas?
E quanto mais cruéis, mais valiosas e duráveis no mercado deles.


1.2. Se o cartaz fosse atendido,
talvez até mesmo os assassinos deixariam de matar,
já que não apareceriam mais na televisão.
Talvez eles virassem até artistas,
mesmo que fosse só pra aparecer.


1.3. Vice-versa, lembrei dos desenhos de Hitler.
Se a escola de belas artes alemã fosse mais compreensiva...















2. Depois de assistir ao filme indiano "Quem quer ser um milionário?",
fiquei feliz em descobrir que a Bollywood meteu a Hollywood
no bolso.


2.1. Como será o primeiro filme indiano 3D?















3. A década de 20 (para o século de cada um)
é aquela em que se costuma escolher um par.
[ou resignar-se à solidão (os escritores niestzcheanos a adoram...)]


3.1. Cada tentativa neste sentido, da escolha do par,
é todo um mar de carícias e confrontos.















4. Ler filosofia sempre me atiça. Sobretudo estas do século passado,
quando descobriram que a linguagem é um jogo.


4.1. Coube-lhes inventar modalidades:
o jogo da linguagem com ela mesma, para ver o que diz.
o jogo da linguagem desesperada, em fragmentos aporéticos e gritantes.
o jogo da linguagem inventando-se, para poder dizer.


4.2. Os filósofos tiveram então que abrir, de vez, a sua cidade
aos poetas. Aprender com eles invés de expulsá-los.






sexta-feira, 2 de julho de 2010

revide nº 1

pensando em revides, tanto para o "Luz, mais Luz!"
quanto para este "conto curtíssimo", lembrei de um texto
que rabisquei há pouco mais de cinco anos, e vou
republicá-lo aqui. depois voltarei para revidar de fato,
com palavras de agora, os dois textos, ou melhor, três,
porque contestarei também o meu próprio - pois
o problema que me vem agora é quanto à facilidade do silêncio, pois
o difícil talvez seja dizer mesmo algo /
compor.


& ... ou um veloz desejo de silêncio


Por Daniel Glaydson



A contemporaneidade é fragmentação, todo mundo sabe

Grosso modo, parece que desde a Antiguidade até hoje, a tendência incontrolável das coisas está em cada vez mais recortar o tempo. Fazia-se epopéias ; hoje um poema é uma palavra apenas. Fazia-se sinfonias ; hoje a música é a eterna repetição de um mesmíssimo minúsculo som. Demorava-se uma vida pintando uma capela ; hoje o objeto de arte já está pronto, basta modificar o olhar sobre ele. & etc, etc

Dizem que esse desapego às obras grandiosas está relacionado à percepção de que não há mais nada a ser dito. Será mesmo? Talvez seja muito mais a simples percepção do quão fragmentado tudo está. Mosaicado. O cotidiano, o não-cotidiano. Mosaicados. A cidade, enegrecida de asfaltos, assaltada de arranha-céus, é um berço que pare e aborta a fragmentação a cada milésimo de segundo, na velocidade sem vento de seus metrôs

Percepção então da fragmentação ou simplesmente de que nunca houve coisa alguma a ser dita. Fragmentação é igual a desespero ; desesperança

Desesperança que nos leva a pensar o presente ; presente que nos leva a pensar o hoje ; hoje que nos leva a pensar o instante ; instante que nos leva a pensar o homem – ponto de onde nunca devíamos ter saído. O instante nos traz a essência do homem, fragrância efêmera, porque afinal, escreveu poeta amigo enigmático, cada segundo é a eternidade doendo

...

A contemporaneidade é também intertextualidade, todo mundo sabe

Aqui sim, talvez haja uma grande influência do tudo já foi dito, ou não. E se for apenas uma vontade canibal (antropofágica?) de devorar o pouco que já se disse – e borbotá-lo de uma forma bem melhor ?

Esse bem melhor não sendo utopias de originalidade – nunca! Não temos nem utopias, muito menos de originalidade. Ser original é pretensão de modernos, de gente que acredita no futuro, no progresso do homem a partir da ciência, gente enfim que se dá com utopias

Tudo já deu errado muitas vezes. Tudo dá errado sempre. Então, conclusão óbvia: esquecemos o Tudo. Tudo é muita coisa. Contentamo-nos com pouco. Aliás, com cada vez menos. Buscamos o cada vez menos como único objetivo de vida. Por isso, ( bingô! ) : a fragmentação

Fragmentação que tenta recortar pedaços de papel que sequer são mais visíveis, de tanto já recortados & recortados & recortados & ...

O fim disso tudo é conseguir uma obra de arte que seja Silêncio

Não é um quadro em branco, um livro em branco, uma música em branco, enfim, pois seria apenas um quadro um livro uma música, em brancos – nada mais.

O Silêncio é mais que isso, quer dizer, menos menos muito menos que isso. É algo assim que se eu soubesse o que era ; silenciaria

quinta-feira, 24 de junho de 2010

terça-feira, 22 de junho de 2010

Luz, mais Luz!

Acabou a luz: Estamos na era da simultaneidade: estamos na era do perto e do longe, do lado a lado, do disperse. Estamos num momento em que nossa experiência do mundo é menos a de uma vida longa, que se desenvolve através do tempo, do que a de uma rede que liga pontos e faz intersecções com sua própria trama.

Um drama? Não, É trágico.
Hum grama? Sim, é lógico!

A sensibilidade crítica (crítica sensível) à espacialidade da vida social vê o mundo vital como algo criativamente localizado,
não apenas na construção histórica, mas na formação e reformação irrequietas das paisagens geográficas:
- O ser social está ativamente posicionado no espaço & no tempo.

Novas possibilidades estão sendo geradas, a parir, desse entrelaçamento criativo em uma dialética tríplice de espaço, tempo e ser social.
Busca-se virar pelo avesso a tapeçaria imponente, para expor em todo o seu osufnoc (confuso) emaranhamento, desprovido de qualquer glamour, os fios que compõem a próspera imagem que ela expõe ao mundo!

Quais são os limites de organização da linguagem (enquanto / sua relação) em seu objetivo de comunicar o sentido, ante a diversidade múltipla das formas de sentir pra si e um léxico compartilhado e transmitido através da linguagem? A comunicação se realiza, primeiramente, Entre nós e nós mesmos? Qual é a linguagem que comunica o “e eu morri”? ah, aquela aranha mora ali, no canto daquela parede, no alto daquela montanha! Os sentidos dados aos questionamentos atingem o dado a se interrogar? Atingem o interlocutor a ponto de interrogá-lo? Ou a imcompreensão tornou-se um modus operandi capaz de comunicar?

Que o verso seja qual uma chave/Que abra mil portas
E os olhos recriem tudo o que ouvem atentamente.
Inventem mundos novos/ independentes à palavra
Em pleno ciclo dos nervos/ como lembrança, nos museus
Vivem todas as coisas sob o sol/ em sua perfeita desarmonia
(distorcido de Huidobro – El Espejo da Água (1916))

Qual é a linguagem que usamos para nos comunicar com nós mesmos? É a forma como apreendemos o mundo sendo refletida por nós mesmos. É a capacidade de se julgar diante do “vir a ser” enquanto uma escolha de um “É, será”. Como compreender a novidade?

A experiência é anterior à consciência, ou são simutâneas?
Se só se vive algo uma vez, só se vive de uma determinada forma. Se vive a experiência, enquanto capacidade cognisciva; É essa a cosnciência e o sentimento de perda na transmutação dos sentidos em História.

O projeto do fim da subjetividade. Pupila de prismas saturada pelas imagens!

Qual a experiência sensível capaz de nos remeter a um processo histórico cujas descrições dos fatos cobriu-as de realidades objetivas tão intensas que sufocaram seu sentido íntimo.

Pensar-se consciente. Saber ser o que for compreender-se no agindo. Avante, o gerúndio do futuro existe. Eu estarei fazendo!

menino pássaro

- ele quer ser pássaro.

agarrou, a cada uma das mãos, uma pena. bateu suas minúsculas asas e voou.

viu nuvens, zepelins, acenou para pilotos de aviões. parou na nuvem mais branca, a que quando na terra, fazia desenhos de cavalos alados nela. e por horas brincou de fazer desenhos com as sombras das casas.

dormiu, acordou pássaro. e hoje, deve estar voando por fernando de noronha e brincando de fazer desenhos com as ondas do mar.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

cito

Quantos véus necessitamos tirar da face do ser mais próximo  que nela foram postos pelas nossas reações casuais e por nossas posições fortuitas na vida , que nos parecia familiar, para que possamos ver-lhe a feição verdadeira e integral. A luta do artista por uma imagem definida da personagem é, em um grau considerável, uma luta dele consigo mesmo.

escreveu mikhail bakhtin.

[...]

Em torres muito remotas, muito altas,
com seteiras fora do comum,
vejo as corujas piscarem. Vejo
perfeitamente bem tudo isso,
mas o que importa e o que não importa, não faço idéia.
Como poderia adivinhar,
se tudo o que vejo
é tão nítido, tão necessário
e tão impenetrável?


Sem suspeitar de nada, absorto em meus negócios,
como nos dela aquela cidade,
ou como aquelas outras cidades
perdidas na distância e ainda mais azuis,
confundindo-se com outras aparições,
outras nuvens, legiões e monstros,
eu sigo vivendo. Vou-me embora.
Tudo isso eu vi, só
não vi a faca cravada em minhas costas.

escreveu hans magnus enzensberger.


{...}

e jander alcântara escreveu também, algo que não quis revelar,
mas eu encontrei escondido na âncora daqui:

o poeta perguntava aos céus onde de fato estaria a poesia. olhou em volta e viu-se imerso naquela pergunta. olhou o em torno. viu-se em torno. (em)tornou, se, de si. era a própria poesia.

{...}


ps: uma música (um som) novo.
um dub q produzi a partir de um sampler do black uhuru,
e que entorna-se quase techno. mais algo para as noites de suicídio aos ouvidos.
chama-se dub dum dub (ou uma breve história da m. eletrônica)
escutar/baixar: http://www.lastfm.com.br/music/d.gr../d.gr../

sexta-feira, 18 de junho de 2010

sexta-feira, 11 de junho de 2010



Desceu às profundezas,
podia ver as raízes em sua plena existência
pois por plenitude entendia a compreensão do oculto.
Mas agora ele precisa de imagens.
Esqueceu-se que também é uma delas...

quinta-feira, 10 de junho de 2010

do texto



na origem, o mundo foi inabarcável,
até que um número indefinido
de desregrados
fora embarcado
a fim de manter a liberdade serena dos que permanecem
e aceitam
con ter-se.

no convés, armas já munidas,
toneladas de carvão e papel
amontoadas como escravos.
tudo predisposição ao definhamento,
ao naufrágio,
ao autogenocídio,
à guilhotina surda,
ao excesso – mas o destino dos que afastamos
é
(um verso ausente e tudo).

ф, Ђ, ¤, Ŋ,
dentre outros velhos fetos crianças velhas ninfetas anjos
mulhereshomens
dispersos
outrora
e todavia agora
concentrados.

naquela noite escura
e clara,
todas as máquinas de moldar o que acontece
para aqueles que nunca estão onde acontece
e sentados se informam,
em posição:
os desregrados são transportados
direto de seus cárceres
recém-fundidos
para a nave.

temia-se uma rebelião, que não houve.
e nem os gritos, nem as injúrias ou as declarações indignadas
que as máquinas quiseram ter visto, para manipular, houveram.

o silêncio resiste a ser editado.
como derradeira declaração,
foi o susto sem fim
aos que não souberam
ir.

a notícia voltou-se contra si mesma,
e quando à nave empurravam da costa
o bafo quente daqueles que odeiam
e temem, à distância,
mais os ventos artificiais e próximos,
já os desregrados davam as costas,
contemplavam o mar e mesmo de terra usurpados,
eram felizes.

isentos da história
em que os quiseram instalar
como a um botão:
primeiros expulsos, origem deixando de ser;
eles dialogavam
entre si

Ђ       é sabido que o mar vigora
         mas sob obscuras
         condições.

¤        entre tanto, eu já gostava das grades, do ferro.

Ђ       morei em muitas casas que eram cárceres
         ainda que eu tivesse, e trago, todas as chaves.
         (aqui ele saca dos bolsos tantos chaveiros e cadeado
         e senhas enferrujadas, que fazem pender
         a embarcação)
         pensei que um dia eu fosse voltar
         a cada uma delas e lá estariam pai, mãe e irmãos,
         à idade da casa. assim eu teria infância e lembraria.
         mas hoje sei que não há regresso
         e me desfaço.

¤        suspeito que o mar pode ser
          uma casa
          muito grande.

ф se pôe nua
ou nu, divinamente
excitado ou excitada,
grita e canta a todos

ф       distanciemo-nos destas roupas de presos!
         lancemo-las à terra enquanto é tempo.
        
esqueçamos a serenidade!

somos totalmente outra coisa...

unida a leveza das roupas ao peso das chaves,
foi esta a última imagem que a máquina viu:
disparopedra ao que cerceia ou cobre ou trunca,
descobrimento muito mais
real ou
pleno.
e na nave fez-se a dança
como um dub de marvento e onda[i]
acompanhando o bordejar
donde embarcamos.







[i]        uma paisagem sonora por criar.

décio & lygia

quarta-feira, 9 de junho de 2010


respirem ...

quinta-feira, 3 de junho de 2010

MEU CÉU

O céu da minha boca tem estrelas,
tão pequeneninhas,
que se fóssemos contar
daria infinito.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

meu sobrinho de cinco anos, pés pretos de correr da rua, pergunta o que é o infinito!
coço a cabeça impaciente e tento explicar que é o número de ondas no mar, os grãos de areia em que pisamos, as gotas da chuva que caem insistentes, etc.

- é o que não tem fim? (dá de ombros e vai brincar infinitamente)

terça-feira, 1 de junho de 2010

solo araña

Daquilo que tece,
vive A aranha.
Trança as tramas
dos fios da Palmeira.
Quando inspira, sente
destrança as entranhas
tecando os fios que
, geometricamente falando,
mentem uma conexão.
imagine: felizes os que ouvem a música das aranhas!

domingo, 30 de maio de 2010

ins | pirações



nem de literatura vive o homem.

só?
é pouco?
é muito?
será suficiente?

e o quê será?

gritar pelo trompete.
violentar o teclado.
postar aqui.
e.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Estáticos e condenados
lembravam do terrível poeta (- ele também está aqui?)
assassinado, acusado de flagrar o inconsciente
em sua atitude perceptível:
- Como eram belos seus versos,
fazíanos recordar a natureza líquida do ar!

Quando a fome era tanta, que esqucíam o que se diz da satisfação de comer, empalideciam disfarçando-a:
- E não me venha com esses seus probrema de "barriga cheia".
E como o estômago adquiria a fisionomia de um pensar, alimentavam-se d eidéias e um pouco de café com farinha - pirão de "cachorro magro"; bom para quem já não se exalta ao estímulo do paladar.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

os dois, ou os três. todos, cessada a viagem, sentam-se à beira dum lago. microondas reverberam, dilatam-se e contraem os reflexos na água. contraem-se estômagos, dilatam-se as pupilas. silêncio ininteligível. entrearguiram-se se pela direita, se pela esquerda, se permaneceriam quietos, calados, imóveis. pausa atemporal. nem um, nem outra e nem a terceira. sentaram, caçaram carne virgem pra comer e deliciaram-se em banho de sol.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Estão todos ai?
sim, estão todos aqui!
Então, este é o único lugar que sobrou?
Sim, é o único habitado!
E os outros?
Não há outros, estão todos aqui!
Há quanto tempo?
Já não faz diferença, todos os tempos também estão aqui.
E como se faz para sair?
Sair de onde?
Daqui?
Não se sai, não se entra, cada um de nós é este lugar, sua borda e o seu centro, quando achar que saiu, você ainda estará nele, aqui a liberdade de um não é o limite da liberdade do próximo, mas a sua extensã. Se quiser pensar morfologicamente, em camadas, o limite superior de cada camada se extende até o limite superior que a sucede e o inferior até o inferior da que a precede, infinitamente, são como os 4 elefantes em cima da tartaruga, e depois vem outras tartarugas e depois outras tartarugas.
Então não há saída?
PORRA, mas você não entende mesmo né!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

do texto



Ђ       há um eu que não me deixa lembrar de si mesmo.

Ŋ       não seria de mim mesmo?

Ђ       há um eu que não me deixa lembrar de si.

Ŋ       não seria de mim?

Ђ       de você?

Ŋ       não! o teu eu não te deixa lembrar é de ti mesmo, por isso você deve dizer: mim mesmo.

Ђ       ele não está aqui, agora.

Ŋ       você está aqui.

Ђ       mas eu vou lembrar disto.

Ŋ       por quanto tempo?

ondas fortíssimas.

Ђ       só sei que tudo quer ser
         mão para tocar,
         mas não é minha mão
         então eu jogo, eu lanço,
         e fere.

Ŋ       tudo pode ser
          mão assim.
          você é um perigo para a sociedade.

Ђ       talvez por isso tenham me embarcado. e a você.

Ŋ       mas a sociedade veio conosco.

Ђ       sim, é verdade.

Ŋ       nós.

Ђ       nós.