sexta-feira, 29 de abril de 2011

Poema i

No meio da tarde de inverno

Tive um sonho como uma fotografia

Vi meu menino de todas as horas

A cantar as dores e a amedrontar

Outros tantos meninos.

Tinha voltado ao meu lado

Era uno, era tríade, era par.

Catávamos moedas de chocolate

Cantávamos músicas que até hoje nem sei.

Ele me ensinou a sentir o gosto das coisas

E a fumar o verde para relaxar.

Cortou fundos de copos para assustar criancinhas

E sorriu quando eu contei-lhe histórias de amor,

Falou mal de Deus

Dizia-me que era um velho demente

Que só existe na cabeça das outras pessoas.

"Ele diz(ia) por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."

Depois partiu pr’alguma Paraíba

Ou nem mesmo veio

(apenas em meus sonhos)

A cutucar-me as memórias.

Essa é a história do meu menino

Que não é Jesus

Que não é de Caeiro

Que não é de Maria

Que não é de ninguém.

alcântara .