sexta-feira, 2 de julho de 2010

revide nº 1

pensando em revides, tanto para o "Luz, mais Luz!"
quanto para este "conto curtíssimo", lembrei de um texto
que rabisquei há pouco mais de cinco anos, e vou
republicá-lo aqui. depois voltarei para revidar de fato,
com palavras de agora, os dois textos, ou melhor, três,
porque contestarei também o meu próprio - pois
o problema que me vem agora é quanto à facilidade do silêncio, pois
o difícil talvez seja dizer mesmo algo /
compor.


& ... ou um veloz desejo de silêncio


Por Daniel Glaydson



A contemporaneidade é fragmentação, todo mundo sabe

Grosso modo, parece que desde a Antiguidade até hoje, a tendência incontrolável das coisas está em cada vez mais recortar o tempo. Fazia-se epopéias ; hoje um poema é uma palavra apenas. Fazia-se sinfonias ; hoje a música é a eterna repetição de um mesmíssimo minúsculo som. Demorava-se uma vida pintando uma capela ; hoje o objeto de arte já está pronto, basta modificar o olhar sobre ele. & etc, etc

Dizem que esse desapego às obras grandiosas está relacionado à percepção de que não há mais nada a ser dito. Será mesmo? Talvez seja muito mais a simples percepção do quão fragmentado tudo está. Mosaicado. O cotidiano, o não-cotidiano. Mosaicados. A cidade, enegrecida de asfaltos, assaltada de arranha-céus, é um berço que pare e aborta a fragmentação a cada milésimo de segundo, na velocidade sem vento de seus metrôs

Percepção então da fragmentação ou simplesmente de que nunca houve coisa alguma a ser dita. Fragmentação é igual a desespero ; desesperança

Desesperança que nos leva a pensar o presente ; presente que nos leva a pensar o hoje ; hoje que nos leva a pensar o instante ; instante que nos leva a pensar o homem – ponto de onde nunca devíamos ter saído. O instante nos traz a essência do homem, fragrância efêmera, porque afinal, escreveu poeta amigo enigmático, cada segundo é a eternidade doendo

...

A contemporaneidade é também intertextualidade, todo mundo sabe

Aqui sim, talvez haja uma grande influência do tudo já foi dito, ou não. E se for apenas uma vontade canibal (antropofágica?) de devorar o pouco que já se disse – e borbotá-lo de uma forma bem melhor ?

Esse bem melhor não sendo utopias de originalidade – nunca! Não temos nem utopias, muito menos de originalidade. Ser original é pretensão de modernos, de gente que acredita no futuro, no progresso do homem a partir da ciência, gente enfim que se dá com utopias

Tudo já deu errado muitas vezes. Tudo dá errado sempre. Então, conclusão óbvia: esquecemos o Tudo. Tudo é muita coisa. Contentamo-nos com pouco. Aliás, com cada vez menos. Buscamos o cada vez menos como único objetivo de vida. Por isso, ( bingô! ) : a fragmentação

Fragmentação que tenta recortar pedaços de papel que sequer são mais visíveis, de tanto já recortados & recortados & recortados & ...

O fim disso tudo é conseguir uma obra de arte que seja Silêncio

Não é um quadro em branco, um livro em branco, uma música em branco, enfim, pois seria apenas um quadro um livro uma música, em brancos – nada mais.

O Silêncio é mais que isso, quer dizer, menos menos muito menos que isso. É algo assim que se eu soubesse o que era ; silenciaria

Nenhum comentário:

Postar um comentário